Visão e trabalhos:
Mystic Eye
Desde 1973 Grey fazia performances muito interativas, e instalações , todas obras sempre muito rituais; filho de um artista gráfico, criado convivendo com artes, realizou ousadias como Metro Privado e a peregrinação ao pólo magnético no extremo norte do planeta, tudo registrado em fotografias como toda performance documentada; muitas explorando a perspectiva da morte como consciência da não-permanência, do efêmero e transitório de tudo, do desapego.
De 1975 a 1980 Grey realizou dissecações no necrotério de uma escola de medicina, aprofundando seus conhecimentos de anatomia e de ilustração científica de obras de medicina e anatomia (vivenciando o Nigredo o Putrefatio alquímico, a obra em negro), uma das obras deste período foi derramar chumbo no ouvido interno do cadáver fresco de uma mulher recém falecida, tirando um molde em chumbo dos espirais do labirinto dela. Esta obra ocasionou um pesadelo iniciático em Grey.
De 1975 a 1980 Grey realizou dissecações no necrotério de uma escola de medicina, aprofundando seus conhecimentos de anatomia e de ilustração científica de obras de medicina e anatomia (vivenciando o Nigredo o Putrefatio alquímico, a obra em negro), uma das obras deste período foi derramar chumbo no ouvido interno do cadáver fresco de uma mulher recém falecida, tirando um molde em chumbo dos espirais do labirinto dela. Esta obra ocasionou um pesadelo iniciático em Grey.
Grey impressiona pela técnica das transparências com as quais dá verdadeiras aulas de anatomia humana, ilustra pessoas de ambos os sexos meditando, ou no ato sexual, e sempre demonstra uma impressionante maturidade mística ao apresentar suas intuições com clareza, mesclando com admirável precisão simbologias sagradas indianas, chinesas, astrológicas, alquímicas, cristãs, judaico-cabalistas e outras, sobrepondo em detalhados corpos humanos desde a Otz Chain (árvore da vida – cabala e os escribas talmúdicos sofer concentrando-se na caligrafia sacra da Tora para atingir a intenção concentrada- kavanot, similar ao sho dô dos kanjis desmanchados chineses taoistas e zen nipônicos e a caligrafia sufi muçulmana de frases do Corão) com chacras (yôga da Índia) aos meridianos (acupuntura chinesa) e fotografias Kirlian, harmoniosamente combinadas com Tantra (maithuna, coito sagrado indiano), xaman -pajelança e arabescos sufi árabes, escritas frases sagradas de orações em sânscrito, chinês, hebraico, latim, e diversas línguas sagradas antigas, combinando-se até com atuais dados científicos de DNA, física de partículas, campos, quanta, supercordas, etc..
E na escolha do corpo feminino, somos surpreendidos com a gravidez, a beleza da gestação alterando formas da bacia e ampliando o ventre, com a transparência do feto e embrião crescendo, comovente e tocante. Uma experiência transcendental é olhar estas peças maravilhosas, um privilégio!
Outras obras, quadros a óleo como Beijando que mostra em transparência um casal unido pelo beijo com o símbolo grego apeíron, infinito, o oito deitado, unindo-os pelo timo no peito e pela pineal na cabeça, outra imagem comovente que faz lágrimas de comoção saírem dos olhos, nos tocando com cores e luzes como O Beijo de Rodin faz no tridimensional com volumes e sombras do casal congelado na ansiosa fração de segundo antes do toque dos lábios no primeiro beijo.
A arte a serviço da elevação ao divino, Grey nos leva além de preconceitos, mesquinharias e identificações ilusórias (Maya), chegando ao campo infravermelho térmico do calor emanado do corpo, um campo energético que todos sentimos ao abraçar a amada em um dia frio; e daí Grey vai nos alçando a vôos maiores, mostrando o padrão vibratório das glândulas-chacras-sefirots gerando campos mais sutis como registrados nas fotografias kirlian, atingindo o eu espiritual, o self junguiano, composto de sutis campos quânticos de pura energia (matéria é energia), passando pelas representações do divino em diversas culturas até a imagem não antropomórfica de um sol ou bola de luz que vivenciamos nas mais altas projeções – viagens astrais fora do corpo físico, no espaço sem onde e no tempo do agora perpétuo, o gerúndio quântico, o presente permanente dos alquimistas, o giro sufi, o êxtase da iluminação, satori, samadhi.
Outra obra mais comovente ainda é Copulando, que retrata um casal em intercurso sexual, entrelaçados em fios dourados flamejantes de apeirons sobrepostos, com corpos em transparências anatômicas, gerando um campo sexual que atrai os olhares cósmicos das forças de vida e morte, da continuidade da vida, da futura alma que deseja encarnar a sansara-ciclo kármico, e no centro dos dois uma transparente e quase imperceptível mandálica Shri yantra do Tantra, símbolo da interpenetração dos opostos.
Outra imagem comovente de consciência ecológica é Gaia, onde a vida natural e o mundo industrial poluente-suicida são mostrados com o símbolo da grande árvore, Ygdrasil, um painel de complexidade indescritível, para ser admirado por horas fazendo o ego diluir-se e perder-se dentro dele, aliás, toda obra de Grey é assim meditativa.
Painting
Como Wilber explica no prefácio de Sacred Mirrors, após a tecnologia da fotografia (que Flusser explica) libertar os artistas do mero retratismo (mimesis aristotélica); Paul Cézanne derruba a perspectiva renascentista, o que vem permitir outros impressionistas como Matisse, pontilhistas como Seurat e expressionistas libertaram nossa sensibilidade para perceber as cores (chegando a Kandinsky com seu espiritual na arte Abstrata, para quem a verdadeira arte envolve o refinamento da alma, do espírito), os Cubistas nos trouxeram uma nova compreensão da forma, e Grey nos brinda com sua visão pessoal do espiritual em um outro nível, além do olho físico e corporal, além da mente culturalmente cultivada, para o transcendente, indo além do corpo e da natureza como pré-verbal, pré-conceitual, pré-mental, chegando a nos fazer vislumbrar o transverbal, trans-egóico, transindividual, o espírito que é universal, além de formas e idéias, o Divino.
Assim, a Arte primeiro envolve o desenvolvimento e crescimento do próprio artista no fazer sua arte-obra em processo (quando o tempo e espaço desaparecem no transe do fazer artístico, e o artista inexiste, o ego morre e se esquece de si, de comer e dormir possuído pelo “sobrenatural” envolvimento da obra-paixão), e em segundo lugar a arte compartilha o desenvolvimento espiritual do artista transpirada em sua obra para evocar intuições místicas similares no observador- fruidor, colaborando com a expansão de nossa consciência por meio da sensibilidade estética ao sagrado.